quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Os Holofotes

Se há coisa com a qual desatino, é aquele tipo de pessoas que se julga um holofote.
Aqueles que, estejam onde estiverem, acham que se devem projectar relativamente aos outros.
Raramente ouvem, atropelam as conversas, e olham para o caderno do espírito como recordistas mundiais da graça, da ironia inteligente e olhar aguçado para a realidade.
São os gajos que gritam e insistem nas histórias, quando toda a gente já percebeu. São os que forçam o riso cortês. Não são os engraçados, mas os engraçadinhos. Não os espirituosos, mas os palhacinhos. A sua história é sempre a mais engraçada, e o seu assunto tem de ser sempre o primeiro a ser discutido.
Os holofotes não chamam a atenção, mas colhem-na à força, nem que seja pela força do ruído. E julgam-se aviltados quando o brilho é partilhado, porque há sempre algo na alternatividade que lhes soa a traição ou boicote do que julgam ser obviamente superior.
Há algo nestas pessoas que as torna desagradáveis no primeiro instante do primeiro contacto. Normalmente é o tom de voz que as denuncia, mas os gestos acabam por ser muito mais reveladores. No entanto, é a voracidade pelo centro da atenção que as torna complicadas, ou ofuscantes, como qualquer luz de holofote. Porque esta, incidindo directa e continuamente, não ilumina, mas ofusca, retirando à força a possibilidade de vislumbrar seja que outra coisa for.
Os holofotes acham que engoliram a luz do mundo, mas apenas vomitam a rudeza própria da luz branca, baça, e sem encanto.

2 comentários:

Dr. Strangelove disse...

Toda a metafisica das bolachinhas.

Feu disse...

Sinto-me um verdadeiro holofote!!!que é que querem...nasci assim pronto...a minha mãe diz que quando eu nasci as enfermeiras ficaram completamente encadeadas perante semelhante espetáculo da natureza!!!!(eu)
Agora a sério..com tanta luz as coitadinhas ficaram a ver flashezinhos durante uma semana, tiveram que ir para uma clinica por causa do descolamento da retina.Escusado será dizer que o meu pai financiou todas as despesas, inclusivé um spa nas maldivas onde tiveram (disseram elas) que recuperar do choque de ver essa luz tão divinal (eu novamente).O que é certo é que nunca mais foram vistas.Parece que foram para freiras e agora estão a ensaiar para participarem no filme que o Steven quer fazer sobre mim.Os gajus não me deslargam,ele é "vip", ele é "caras", ele é Iola", ele é "Maria" são chatos, é uma chatice, sempre a fugir, sempre a fugir, mas esta luz radiante denuncia-me sempre. Isto tinha dado mais jeito se tivesse nascido com despositivo on/off.Quando tiver filhotes já sei.è logo a por-lhes um interruptor na testa.Há que preservar a juventude.Ai, ai...(suspiro...)